Pela Dignidade da Pessoa Idosa

Segundo os Censos 2011, mais de 400 mil idosos vivem sozinhos e outros 804 mil vivem na companhia exclusiva de outros idosos. Os dados apresentados pela PSP (Polícia de Segurança Pública) relativos ao mesmo ano, registaram 2.872 casos de idosos (pessoas com 60 ou mais anos) que morreram em casa, completamente sós (como ‘seres anónimos’), sem qualquer tipo de assistência.

Esta dura e terrível realidade resulta, em parte, de uma deturpação generalizada (estereótipos) da ideia de envelhecimento na sociedade, que vitimiza os idosos, que acabam por ficar esquecidos, desamparados, negligenciados. Em oposição aos ícones de uma vida desejável, de bem-estar e de idolatrização da juventude ‘eterna’, a velhice é apresentada como uma doença e/ou degradação do homem, de tal modo que as famílias e a sociedade reservam um lugar aos idosos que os conduz a um sentimento de culpa e de inutilidade e que os torna nos primeiros candidatos ao suicídio. Esta posição negativa tem provocado consequências em várias componentes (social, física, psicológia e cognitiva) da vida dos idosos.

O pavor ao sofrimento e o medo da morte são universais e estão relacionados com o instinto da conservação da vida e, por estarem ligados à degradação física e mental, conduz ao esquecimento destes fenómenos existenciais por parte do homem.

O idoso não é uma coisa (algo), ele é PESSOA e tem dignidade. Como HOMEM é “um fim em si mesmo” não devendo ser transformado num meio, reduzido a um objecto que depende de uma vontade alheia. Deste modo, cuidar e falar com os idosos é saber ouvir as suas vontades e necessidades, os seus temores e as suas angústias, num compromisso em não os abandonar devolvendo-lhes algo que lhes pertence: o tempo que lhes resta viver.

Assim, e no decorrer do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, esta petição é dirigida aos membros do Governo da República Portuguesa, bem como a todos os partidos com assento parlamentar, no sentido de apresentar duas propostas configuradoras de uma mudança transformadora na sociedade portuguesa em relação aos mais frágeis, vulneráveis e excluídos:

- Primeiro, a formulação e a aplicação de políticas, reais e sérias, de promoção de envelhecimento activo como estratégia prioritária em ordem a um envelhecimento saudável, activo, e com segurança, que impliquem o envolvimento responsavelmente comprometido do poder local (autarquias, freguesias e associações de município) e das comunidades como garantia de uma maior eficácia na resolução deste problema, nomeadamente no combate ao abandono e à solidão da população idosa, assegurando a melhoria da sua qualidade de vida e a sua participação (cidadania activa) na comunidade em que se encontram inseridos, defendendo a sua liberdade, autonomia, bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida, ao afecto, ao respeito e à dignidade.

- Segundo, a implementação de políticas educativas (nos vários níveis de ensino) de promoção ética do conceito de envelhecimento em todas as suas dimensões, aliadas a uma promoção - pelo debate público - das questões do sofrimento e da morte, como algo natural à condição e existência humanas.